Dizem que, somente depois de certa idade, aprendemos a ter prazer com os vinhos. Sendo assim, para compensar minha ainda falta de experiência, há tempos venho estudando os vinhos numa proposta diferenciada, me apegando aos chamados temas transversais relacionados ao cultivo, produção e distribuição.
Já viajei, visitei lugares e conversei com especialistas. Estudei a história, a geografia e culturas por trás dos grandes centros produtores como o “Douro” (Nordeste de Portugal), “Rioja” (Espanha), “Bordeaux” (Oeste da França) e vales sagrados dos nossos vizinhos, Chile e Argentina. Como sou um administrador, era de se esperar que histórias relacionadas a grandes empreendedores do mundo dos vinhos viessem a chamar minha atenção.
Hoje, quero dividir com você, caro leitor, uma incrível história que descobri ao pesquisar os vinhos de Portugal. Por lá, nasceu em 1913, Fernando Nicolau de Almeida. Mais que um enólogo, acima de tudo, o homem foi um revolucionário criador de vinhos na região do ‘Douro’.
Por exigência do pai, ele estudou línguas e química, e cresceu ligado a atividades esportivas. Seu pai, diretor técnico da “Casa Ferreirinha”, umas das maiores produtoras de vinhos do Porto, sempre o chamava para seções de degustação. E, com o passar do tempo, seu sonho de ser aviador, invariavelmente, era atordoado pela constante convivência entre tonéis e o cheiro do vinho por toda parte.
Em 1930, ele se frustra ao participar de sua primeira vindima (colheita de uvas), em virtude do enfrentamento do calor dos alojamentos. Mas, no ano seguinte, ao ver seu pai encantado ao provar um dos vinhos fruto de seu trabalho passado, revê seus conceitos e aceita de uma vez o seu legado.
Aproveitando a fase em que a ‘Casa Ferreirinha’ se abria para novas experiências, Fernando viaja para outras regiões da Europa. Investiga o cultivo e a produção e volta para Portugal, decidido a rever os conceitos de sua região. Sua meta: ‘produzir um grande vinho de mesa’, utilizando-se das famosas uvas que davam vida aos vinhos do Porto, sendo que os atuais vinhos de mesa produzidos no local eram simplórios demais e vendidos aos garrafões.
Para conseguir sucesso, ele precisava incrementar mais acidez ao corte, e então buscou uvas de cepas plantadas em lugares mais altos. Mas aí se descobriu com um grande problema. A fermentação da nova receita carecia de temperaturas baixas, as quais seriam impossíveis de ser alcançadas numa região sem eletricidade.
O que fazer? Fernando teve uma ideia! Sem ter como trazer de imediato a eletricidade para o campo de cultivo, ordena a criação de cubas com paredes duplas, capazes de receber e armazenar gelo, por sua vez, transportado de caminhão de uma cidade vizinha a cinco horas de distância. Em meio a tantos desafios, seu novo produto vinga e, em 1952, declara pronto seu primeiro “Barca Velha”, oito anos após sua fabricação.
Várias histórias curiosas foram creditadas ao senhor Fernando, que já morreu antes de 1998, dois anos após se aposentar. Em uma delas, conta-se sobre uma visita oficial da ‘Rainha da Inglaterra’ à Portugal. Quiseram oferecer à sua majestade, o ‘Barca Velha’, e então o requisitaram ao senhor Fernando, que, prontamente, recusou entregar uma de suas garrafas. Segundo ele, o vinho ainda não estava em seu ponto certo de maturação dentro da garrafa.
Para Saber Mais…
Este foi um texto publicado como coluna, em uma revista ou jornal.
Título Original: Uma incrível viagem pelo mundo dos vinhos
Data/Edição: Março 2013